O Inventário do Património Imóvel do Concelho da Horta
 

Jorge A. Paulus Bruno*

O Inventário do Património Imóvel do Concelho da Horta teve início em 1998, precisamente no ano em que se verificou o violento sismo de 9 de Julho que atingiu severamente as ilhas do Faial e do Pico, e resulta no âmbito das dinâmicas criadas na sua sequência.

Quando se verificou este cataclismo decorriam os trabalhos de inventariação do património imóvel do Concelho da Madalena. A estes seguiram-se, ainda que brevemente, os da Vila Nova do Corvo. Mas foi durante este período que, em sintonia com a Direcção Regional da Cultura, se entendeu ser inquestionável a oportunidade da realização imediata do Inventário do Património Imóvel do Concelho da Horta com o objectivo de registar o maior número possível de casos inventariáveis, mesmo que atingidos pelo sismo, mas antes das acções de demolição e reconstrução que se avizinhavam.

Foi, pois, determinante para a realização do inventário deste concelho nessa ocasião a dramática ocorrência desta crise sísmica. Na sua sequência, na perspectiva da gestão deste projecto, ou se optava (como se fez) por realizar o inventário de imediato, tão depressa quanto possível, quando ainda não estavam lançadas em larga escala as acções de demolição e posterior reconstrução da generalidade dos edifícios atingidos, ou então se aguardava pelo resultado da reconstrução que viria a ser operada nesta ilha.

Estamos seguros de que a opção tomada foi, por diversas razões, a melhor. Desde logo porque permitiu assegurar o registo de uma memória que depressa começou a ser alterada com o desaparecimento e a transformação (inevitável) de alguns imóveis. Depois, porque a reconstrução de muitos imóveis não lhes veio acrescentar qualquer mais-valia como património cultural, antes pelo contrário, subtraiu-lha, pese embora ter-lhe eventualmente acrescentado valores de outra natureza.

Tomada a decisão de dar prioridade ao inventário deste concelho, foi possível iniciar os trabalhos no terreno já em meados do mês de Novembro desse ano, logo após uma fase de preparação na qual foram realizadas acções de pesquisa bibliográfica e documental sobre o concelho. Como resultado desta pesquisa importa salientar dois dossiês cuja informação foi objecto de consultas detalhadas e frequentes como comprovam as abundantes referências (abreviadas) averbadas nas respectivas fichas no campo da bibliografia e documentação de referência: "Arquivo da Arquitectura Popular dos Açores", AAVV, Associação dos Arquitectos Portugueses, 1993, e "Plano de Urbanização da Horta" ("Edifícios e Elementos de Qualidade" e "Sítios ou Conjuntos Urbanos de Qualidade"), Carlos Duarte, José Lamas. Estudos de Planeamento e Arquitectura, Lda., 1995.

Nesta conformidade, a execução do Inventário do Património Imóvel do Concelho da Horta decorreu entre os meses de Novembro de 1998 a Fevereiro de 1999. Uma parte substancial deste período foi ocupada na campanha de terreno, onde a respectiva equipa (Miguel Reis Amado e Victor Pereira Melo) tomou contacto com o património construído do concelho e procedeu ao seu consequente levantamento com base nos critérios estabelecidos.

O acompanhamento destes trabalhos estabeleceu-se através de visitas regulares ao terreno do coordenador do projecto e da equipa de consultores João Vieira Caldas, José Manuel Fernandes e Rui de Sousa Martins). Durante estas visitas procedeu-se a análise, avaliação e correcção do trabalho realizado pela equipa de terreno, depois de tomadas previas decisões sobre as espécies imóveis que vieram a ser inventariadas.

No início da campanha de terreno - e tendo em vista assegurar uma ampla divulgação e criar uma dinâmica cultural ascendente em torno deste projecto, procurando envolver a comunidade através da sua participação activa - realizou-se, na Sociedade Amor da Pátria, uma sessão pública de apresentação e discussão do projecto, pelo coordenador, na qual esteve presente e participou, para além de diversos munícipes, uma parte significativa dos representantes das principais instituições públicas e privadas do Concelho. Ainda durante a fase inicial desta campanha, no átrio da entrada dos Paços do Concelho, foi também apresentada uma exposição sobre a Arquitectura Popular dos Açores, concebida e realizada pela então Associação dos Arquitectos Portugueses.

Como resultado destas acções, deve sublinhar-se o considerável número não só de instituições como também dos mais anónimos aos mais destacados munícipes que, sempre prontamente, se disponibilizaram para prestar qualquer colaboração solicitada. O seu apoio e colaboração, traduzidos desde a cedência de apreciados recursos logísticos até a mais elementar informação, contribuíram determinantemente para a concretização deste projecto.

Concluído o Inventário do Património Imóvel do Concelho da Horta, resultaram duzentas e onze espécies inventariadas - a que correspondem mais de duas mil e trezentas imagens, entre diapositivos, fotografias a preto e branco, esquissos, desenhos e plantas -, no âmbito das quais se salienta a predominância do grupo tipológico correspondente à arquitectura doméstica, logo seguido dos conjuntos edificados e da arquitectura religiosa, quer umas quer outros, sobretudo, construídos durante o século XX, mas hoje, na generalidade, substancialmente marcados pelos efeitos do sismo de 9 de Julho de 1998.

*Coordenador do Projecto do Inventário do Património Imóvel dos Açores

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